22 dezembro 2011

Dialogando

- nossas semelhanças me assustam.
- talvez por eu ter medo de mim, eu tenha medo de você também.
- eu me sinto conversando com um espelho extremamente límpido.
- eu me sinto falando com uma fantasia não tão bem feita de mim.
(...)

- e se a gente fosse?
- a gente já é.
- e eu sou, sem você?
- eu sinto que eu sou, mas pela metade. então você meio que é.
- e nós somos por inteiro.

(...)

13 dezembro 2011

Gula

às vezes minha gula artística quer engolir tudo e vomitar arte, descobertas, invenções e maravilhas. mas o vômito não passa de vômito ruim, que fede, que a gente encontra em toda esquina e pisa todos os dias sem nem saber no que está pisando. é triste porque eu não consigo me visualizar. eu não me enxergo, eu não me sinto, eu só sou e não é agradável. é como se eu ficasse dando descarga sem parar mesmo não tendo nada no vaso sanitário. como se eu insistisse em algo que não existe e me esforçasse pra que existisse, mas esse esforço é inútil. não dá em absolutamente nada. é como um fim em si próprio.

15 setembro 2011

Sabiá mudo

eu quero o mundo
que escapa dos meus dedos,
mas estrangula minha garganta.

da minha falta de ar
surgem urgências silenciosas
e com o barulho de meu peito
desejo inquietamente emudecer.


numa canção sem compasso,
gritar aquilo que me fez perder a voz
e fora do ritmo proclamar a minha rouquidão,
rouquidão de sabiá que voltou pra sua terra,
mas em sua terra não quer ficar.

21 julho 2011

A estrada

Não há o que temer com a distância, a estrada é reconfortante, me da segurança durante meu percurso. Não me afeta o fato que estou sempre tendo que partir, o recomeço faz parte de mim.
Faz parte do meu cotidiano, mudar de pele, de alojamento e de olhar.Faz parte do meu mundo ter que mudar o meu mundo, tempo e o resto que me cerca a curto período.Isso não conforta a ninguém, mas ninguém precisa saber.Não espere muita coisa, e nem guarde sentimentos por mim, sou feita em pedaços.O vento sopra e me carrega de instante, não sou constante, não preciso parar, apenas respirar.As tentativas que me acompanham de sol a milhas, em lugares distantes, estranhos, mas os o que levo não muda. Difíceis lembranças são as mais companheiras, cobertores do chão das ruas que eu passei.
Complicadas informações da terra da insolência, a vida de um cão de rua, a terra da solenidade.Os restos de um sentimento espalhados pelos rastros de uma vida miserável.
As pessoas não tem direção a mim, são aromas que sinto mais não me recordo.
Tudo se porta assim, as pessoas também não se recordam de mim.Não se sabe quando, ou que está relacionado ao corpo, ou a sua alma. O que estraga é quando o sentimento de impotência sem querer escapa, querendo que tudo fuja do controle.
Eu até tento fugir da rotina da meia noite, muitas vezes o pensamento de desistir me prende com uma forte turbulência.Mas dos poréns confesso que a estrada é mais romântica, menos constante.
Não resisto mais a estrada.

12 abril 2011

O estranho

Triste sensação de acordar e me sentir estranha, como aqueles dias em que acordo e vejo que perdi o dia todo e só me resta a noite calma e silenciosa.

Pode ser que por conta disso por fora eu tenha me acostumado assim, pode ser que por isso por dentro aproveito a noite para fazer minha bagunça. Bagunça noturna.

Inexplicavelmente é uma forma que tenho para pedir ajuda em todas as cores e religiões por essa agonia, pra que esse desespero não se repita no dia seguinte ao acordar. Por esse rumo perdi a saída, um bloqueio devastador em meu pensamento mais claro.

A insaciável morbidez acabou me acostumando, já não consigo distinguir se estou sonhando ou se as coisas a minha volta estão mesmo acontecendo. Por mais que faça um sol que arde a pele só de respirar.

Os dias parecem inacabáveis e insuportáveis, a culpa é dessa espera louca por algo que não se sabe o que é. A espera cansativa de que tudo acabe só me consome a cada noite mal dormida, e o positivismo me anima por algumas horas, até dias, meses....Mas quando não me falha a memória, percebo que se passou a vida por mim com seu tempo turbulento.

A pouca certeza que tenho é que se não consigo me livrar do que temo, preciso passar a entender melhor o que me tira o controle. Para que enfim eu possa conviver com tanta desunião entre meu coração, alma e pensamentos. Da forma suportável.

O meu preço é saber em que ocasião me desfazer. Aceitação é um ato mais corajoso que consigo fazer no momento, é o que precisa ser feito. Meus dias então serão assim, estranhos, sem rumos até que eu consiga entender do que se trata.

O fato é, ter cuidado para não gostar desse veneno ao ponto de morrer de cegueira. É um risco que corro a partir de hoje, porque agora essa sou eu, uma completa estranha.